A Polícia Civil abriu inquérito ontem para apurar um golpe milionário que pode ter vitimado pelo menos 2.000 pessoas em Minas. A estimativa é que o prejuízo acumulado nos últimos quatro anos chegue a R$ 95 milhões. No centro das investigações está o empresário Thales Emanuelle Maioline, dono da Firv Consultoria e Administração de Recursos Financeiros, com sede em Belo Horizonte, que sumiu sem explicar onde está o dinheiro entregue a ele pelos investidores.
A denúncia é que através do fundo de investimentos que recebeu no sugestivo nome de "Clube dos Vencedores", a Firv Consultoria tenha se apropriado do dinheiro entregue por pessoas das mais diversas profissões, atraídas pela oferta de rendimentos acima da média normal de mercado. A irmã de Thales, Iany Maioline, e o sócio dos dois, Oséias Marques Ventura, também são investigados.
Ontem, pelo menos 11 funcionários da Firv Consultoria, que também investiram nos negócios da empresa, formalizaram denúncia de estelionato contra Thales e os sócios. A empresa tem sede no bairro Buritis, região Oeste da capital, mas mantém escritórios nas cidades de Nova Lima, Itabirito e Itabira, onde há muitas pessoas lesadas.
Há relatos de investidores que tiveram prejuízo de até R$ 3 milhões. "Trabalhamos com a suspeita de estelionato, falsidade ideológica, crime contra o consumidor e crime contra o sistema financeiro", disse o titular da Delegacia Especializada de Investigação de Crimes contra o Patrimônio da capital, delegado Anselmo Gusmão. O golpe teria sido descoberto depois que um investidor requisitou um saque de R$ 3 milhões. Pressionado, Maioline deixou Belo Horizonte, na última sexta-feira, com a desculpa de que assinaria um contrato de R$ 20 milhões, em São Paulo. Desde então, não foi mais visto.
IntimaçãoDenunciada, a empresa Firv Consultoria agora é alvo de um inquérito policial por estelionato e falsidade ideológica. Hoje, os sócios de Thales Maioline, que está desaparecido, deverão se apresentar à polícia. Iany Maioline e Oséias Marques Ventura foram intimados a prestar esclarecimentos, às 9h, na Delegacia Especializada de Investigação de Crimes contra o Patrimônio.
Ontem, os sócios ficaram trancados na sede da empresa, no bairro Buritis, na região Oeste da capital, durante todo o dia. Eles saíram sem dar declarações.
Os únicos que falaram com a imprensa foram os investidores que lotaram a porta da Firv assim que souberam do sumiço do empresário, responsável por recolher o dinheiro usado no investimento. A todo momento, chegavam investidores de várias partes do Estado. Desde pessoas que contaram ter investido as únicas economias, algo em torno de R$ 40 mil, até grandes quantias que chegam a R$ 3 milhões.
As vítimas foram informadas pelos dois parceiros de negócios do investidor de que eles também foram vítimas de Maioline. O advogado deles, Marco Antônio de Andrade, garante que os dois são inocentes. (Com Tatiana Lagôa)
ExtratoO delegado Anselmo Gusmão atestou que um extrato achado na última segunda-feira por funcionários da Firv na empresa é falso. O papel encontrado era apenas uma cópia, e o documento da Bolsa de Valores trazia o valor de R$ 95 milhões. Os funcionários denunciam que Maioline viajou para São Paulo acompanhado de duas mulheres e um motorista, na sexta-feira, mas ordenou que os três voltassem no mesmo dia. Investidores lamentam prejuízo
Para as pessoas que investiram nos negócios da Firv, o sonho de conseguir multiplicar o dinheiro a cada mês se tornou um verdadeiro pesadelo. Para participar, muitos clientes venderam carros, casas e fizeram empréstimos altos em bancos.
Chorando, um dos funcionários da empresa e que tinha apostado as fichas no negócio contou que investiu R$ 2 milhões. Agora, não tem esperança de ter o dinheiro de volta. Vendi tudo o que tinha: casa, carro e lote em Itabirito e vim pra cá trabalhar. Agora me sinto um grande idiota, lamentou.
Um vendedor, também de Itabirito, que não quis se identificar, disse que ficou encantado com a possibilidade de ter lucro alto e vendeu o único carro, fruto de anos de economia. A cada mês, ele pegava o rendimento que recebia em conta e parte do próprio salário para voltar a investir. Agora, lamenta a perda de R$ 80 mil.
Um outro funcionário da Firv contou que abandonou o antigo emprego atraído pela oferta do patrão, agora desaparecido. Mas, agora, além de perder os R$ 250 mil, o rapaz diz que está sendo cobrado pelas pessoas que ele apresentou ao investidor. Com vergonha, as vítimas não quiseram se identificar.
Ainda em Itabirito, um vereador investiu R$ 10 mil, após ver vários amigos recebendo mensalmente os rendimentos dos valores que depositaram. O Thales (dono da empresa) conseguiu credibilidade com todo mundo. Eu conheço empresários que colocaram milhões naquela conta, disse o parlamentar, sem se identificar. (TL)